15/09/2010

Agarrar a câmara com os olhos

No tempo em que as salas de cinema eram palácios, a face de um actor, ampliada num ecrã gigantesco, dominava centenas de pessoas ao mesmo tempo, nos quatro cantos do mundo. Ainda hoje isso acontece, mas os ecrãs diminuíram, o que não impede o olhar de continuar a ser o catalizador da relação do actor com o público. Pode-se fazer cinema das mais variadas maneiras, mas para mim, certamente para muitos, o cinema sem o olhar de um actor não é a mesma coisa.

Aqui, uma cena de "Oito Mulheres" de François Ozon. A grande Isabelle Huppert desmancha por momentos a sua personagem rígida e severa e imprime-lhe uma humanidade avassaladora. A partir dos dois minutos, é a magia.




João Loff

10/09/2010

A Voz

A voz é um dos instrumentos de trabalho de um actor.

Saber tirar partido do aparelho vocal, trabalhá-lo para o pôr ao serviço das personagens, é um dos pontos a tratar no meu módulo.


Só em jeito de presente, aqui vai um exemplo de quem sabe dominar a voz e fazer com ela o que precisa de fazer. A intérprete de Bart Simpson até a cantar consegue ser... Bart Simpson...

Já agora, o seu a seu dono - a voz do Bart é da actriz Nancy Cartwright que, só por curiosidade, também faz as vozes de Ralph Wiggum, Nelson Muntz, Todd Flanders e Maggie Simpson.


Luísa Ortigoso



09/09/2010

Representar vs Interpretar

Apenas palavras diferentes para a mesma coisa?

Defendo que não. Representar está mais próximo da imitação do "boneco", do desenho exterior da personagem. Representar é, quanto a mim, fingir que se é, fazer de conta que.

Interpretar
, por outro lado, é levar a verdade da personagem que se veste ao espectador, construir a partir de dentro, a partir das referências e das memórias afectivas e sociais.

No vídeo que aqui posto, podem ver um Kevin Spacey que não finge que é um homem que acabou de ser assassinado, mas que é um homem que acabou de ser assassinado. Há uma diferença... Ora vejam:



Luísa Ortigoso

08/09/2010

Meryl Streep in Angels in America

Aqui posto um presente para todos. Se ainda não viram "Angels in America", tentem ver - é uma mini série extraordinária, com interpretações também elas extraordinárias. Existe em dvd. Deixo-vos Meryl Streep nessa série em 4 magníficas personagens e, em cada personagem, oferecendo-nos uma verdade indiscutível.



É assim, quando vem de dentro....



Luisa Ortigoso



No princípio era o beijo

O primeiro beijo de sempre da história do cinema. Data de 1896 e imagina-se facilmente o escândalo que suscitou na época. Neste tempo, o cinema pouco era mais do que uma ou outra composição isolada, visível por 5 cêntimos (um níquel) em máquinas, nos famosos Nickelodeons.

06/09/2010

THE shot

Há filmes que, sem serem geniais, nos ficam na cabeça por terem um ou outro momento que nunca mais nos sai da cabeça. E depois há outros que são compostos única e exclusivamente por momentos destes, e merecem automaticamente o estatuto de obra-prima.

Para quem não viu ainda "Goodfellas" de Martin Scorsese, shame on you. Para quem ainda não o viu umas quinze vezes, tsk tsk. Bom, adiante. Quando os moldes do módulo que vou dar começaram a ser desenhados, algumas ideias vieram-me imediatamente à cabeça, sobre diálogos, cenas de filmes, argumentos, e sobretudo PLANOS. Mas uma surgiu de forma mais clara, mais cristalina, um plano cravou-se-me de imediato e aí pensei: "módulo nenhum de acting on screen pode ser dado sem mostrar este plano."

Enquadre-se o momento: Dezembro de 1978. O gang liderado por Paulie Cicero (Paul Sorvino) acabou de limpar mais de 5 milhões de dólares de um terminal de aeroporto da Lufthansa, e entram para a história com um dos maiores roubos conhecidos até então. Parece que vai ser um "Feliz Natal"... ou talvez não. Jimmy Conway (DeNiro) sabe que, exceptuando os seus "irmãos" Tommy (Joe Pesci) e Henry (Ray Liotta), o resto do gang, uma corja de sociopatas gananciosos que não souberam guardar o dinheiro até que a ventania acalmasse, acabará mais cedo ou mais tarde por deitar tudo a perder. É aqui, neste momento, que Jimmy decide que a única solução será eliminá-los. A todos.



Em 24 segundos de plano, sem uma única palavra, apenas com um olhar que parece cortar gelo e um enigmático e infernal sorrisinho no canto da boca, Robert DeNiro escreve um capítulo inteiro sobre o que é isto de "Acting on Screen". Há quem diga que é o seu maior momento. Bem maior do que a mítica cena do espelho no Taxi Driver. Vejam, revejam, absorvam, e inspirem-se. É assim que se faz.


João Loff

SPOILERS AHEAD

PS: Isto é o que acontece mais à frente no filme. Depois de um plano e do mote dado ao som de "Sunshine of Your Love", dos Cream (banda de Eric Clapton), uma montagem ao som de Layla, tema composto também por Clapton. É por estas coisas que eu gosto do Scorsese.

03/09/2010

Uma Cena Avassaladora

Dizer que Al Pacino é um grande actor é uma "Palissada", isto é, é dizer uma verdade óbvia. Aqui fica uma cena, tirada de O Padrinho III, que muito tem que se lhe diga.

Os tempos, os gestos, o dito e o não dito. O grito mudo preso na garganta. A dor que invade o corpo (e não só o rosto todo - para os que defendem que o cinema se faz do pescoço para cima) e o deixa dormente, como um veneno que se espalha depois da dentada de uma cobra venenosa. É um momento magistral ao qual muito dificilmente se fica indiferente.

Susana Vitorino





  
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