06/09/2010

THE shot

Há filmes que, sem serem geniais, nos ficam na cabeça por terem um ou outro momento que nunca mais nos sai da cabeça. E depois há outros que são compostos única e exclusivamente por momentos destes, e merecem automaticamente o estatuto de obra-prima.

Para quem não viu ainda "Goodfellas" de Martin Scorsese, shame on you. Para quem ainda não o viu umas quinze vezes, tsk tsk. Bom, adiante. Quando os moldes do módulo que vou dar começaram a ser desenhados, algumas ideias vieram-me imediatamente à cabeça, sobre diálogos, cenas de filmes, argumentos, e sobretudo PLANOS. Mas uma surgiu de forma mais clara, mais cristalina, um plano cravou-se-me de imediato e aí pensei: "módulo nenhum de acting on screen pode ser dado sem mostrar este plano."

Enquadre-se o momento: Dezembro de 1978. O gang liderado por Paulie Cicero (Paul Sorvino) acabou de limpar mais de 5 milhões de dólares de um terminal de aeroporto da Lufthansa, e entram para a história com um dos maiores roubos conhecidos até então. Parece que vai ser um "Feliz Natal"... ou talvez não. Jimmy Conway (DeNiro) sabe que, exceptuando os seus "irmãos" Tommy (Joe Pesci) e Henry (Ray Liotta), o resto do gang, uma corja de sociopatas gananciosos que não souberam guardar o dinheiro até que a ventania acalmasse, acabará mais cedo ou mais tarde por deitar tudo a perder. É aqui, neste momento, que Jimmy decide que a única solução será eliminá-los. A todos.



Em 24 segundos de plano, sem uma única palavra, apenas com um olhar que parece cortar gelo e um enigmático e infernal sorrisinho no canto da boca, Robert DeNiro escreve um capítulo inteiro sobre o que é isto de "Acting on Screen". Há quem diga que é o seu maior momento. Bem maior do que a mítica cena do espelho no Taxi Driver. Vejam, revejam, absorvam, e inspirem-se. É assim que se faz.


João Loff

SPOILERS AHEAD

PS: Isto é o que acontece mais à frente no filme. Depois de um plano e do mote dado ao som de "Sunshine of Your Love", dos Cream (banda de Eric Clapton), uma montagem ao som de Layla, tema composto também por Clapton. É por estas coisas que eu gosto do Scorsese.

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